Foi no dia 25 de Abril de 2015 que um terrível terramoto de 7.8 na escala de Richter deitou abaixo grande parte da capital do Nepal, foram muitos os pagodes que perderam os telhados mas não foram só os pagodes, dizem que foram mais de 4 milhões de pessoas afetadas pela tragédia e mais de 5000 mortes. Por toda a cidade existem vestígios bem evidentes da destruição mas há um povo humilde e de coração bom que lentamente vai erguendo o seu património ainda que com alguma tristeza nos olhos. Aterrei em Kathmandu dois dias depois de um terrível acidente de viação acontecer naquele aeroporto, dizem que os ventos cruzados das montanhas adjacentes ao vale nem sempre são fáceis de contornar, mas só regressei a Katmandu 7 dias depois e foi nessa altura, quando chegámos a Patan e Bhaktapur que tive consciência do que tinha acontecido faz hoje precisamente 3 anos. No meio das ruínas há gente que transporta pedra aos ombros, onde contrastam com os miúdos do colégio que passam de fardas limpas e bonitas no meio do enorme ruído das obras. Na Durbar Square os edifícios de madeira são suportados por andaimes de bambo, os vendedores de rua fazem roda à nossa volta, pedem 500 e só nos largam depois de conseguir vender nem que seja por 100 rupias. Os templos em madeira esculpida tem vários tetos, curiosamente o mais alto e único de 5 tetos não sofreu com o terramoto. Dizem que foi a Deusa que nele habita que o salvou.
Os edifícios desta cidade medieval e atmosfera intrigante são fascinantes, as ruas estreitas são pavimentas de tijoleira de barro aplicada em espinha, os comerciantes são amáveis, há grupos de estrangeiros que fazem trabalho de voluntariado na reconstrução de casas, soubemos disso porque conhecemos uma dessas almas caridosas, um dinamarquês, alto, de cabelo loiro e olhos azuis que nos revelou a sua cidade favorita, tivemos a histeria depois que sacou do telemóvel e a foto de proteção do ecrã era Lisboa.
De tarde fomos ao Templo de Pashupatinath um local sagrado Hindu onde veneram uma das encarnações de Shiva, fica junto às margens do rio Bagmati. Aqui fazem a cremação dos corpos ao ar livre e depois as cinzas são deitadas ao rio, segundo a tradição quem tem direito a esta celebração significa reencarnar como humano. Um local com uma carga muito pesada e um cheiro completamente insuportável, admirei-me da tranquilidade das pessoas que por ali andam, sem se incomodarem com cheiros ou fumos intensos e embora eu tenha saído de lá a correr para ir respirar, foi dos locais que mais me marcou pela diferença abismal de cultura. Terminamos o dia na maior e mais importante Stupa Budista, fora do Tibete. Numa enorme plataforma branca surge uma torre dourada com os olhos que tudo vêm de Buddha pintados nas quatro faces da torre. Cumprimos uma vez mais o ritual das voltas no sentido do ponteiro do relógio, e fomos imitando os monges, rodando os cilindros ao longo do percurso. E porque as Shantis também podem beber cerveja, terminamos o dia assim mesmo, numa esplanada com vista para a Stupa comemorando a vida e brindando a amizade.
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